Você sentiu?

Um choquinho daqueles de escada rolante.

Nossas vozes feito doce que gruda no céu da boca.

Olhos de ovo frito e tiro ao alvo.

Sensação de estar num balanço aos sete anos.

Ansiedade de passeio escolar para a serra.

Eu sem saber como terminar poemas.

Você sem conseguir sair deles.

Darwin

As palavras são mais fortes do que eu

E muito mais cruas do que prega a boa conduta

É que você mexeu com coisa antiga

Instinto que sobrou daquela primeira célula

E o que a minha mente leva numa boa

Meu corpo guarda que nem reflexo

Até descobrirem um jeito de tirar alguém dos poros

Eu sigo transpirando

Esperando meu corpo te expulsar

De onde você nunca esteve

Domingo

Estampido do escapamento da moto.

Caminhão de lixo com a comida de ontem.

Ambulâncias e sirenes diversas.

Risadas embriagadas.

Aquele silêncio, mais ou menos, de megalópole.

Um grito sussurrado fere a atmosfera abafada.

Atravessa prédios, clubes, restaurantes e shoppings.

Invade cochilos, banhos de sol, almoços em família e compras.

Por uma fração de segundos, cabeças viram;

E rostos felizes se franzem em interrogações;

Buscam aquele alívio que só se encontra na ponta do próprio nariz;

Narinas intactas.

Isso basta.

Risadas embriagadas.

Coisas de quem tem muitos olhos

As laranjas iluminam rostos insones

(em frente às telas ou por causa delas)

As vermelhas direcionam os que vêm do céu

Mas também insistem em tentar interromper os apressados

(que as ignoram)

As verdes permitem a passagem dos que correm perigo

As azuis são daqueles que vivem em Hollywood

As brancas, que vêm e voltam, representam a arte

De madrugada, a cidade é ainda mais colorida

Basta desligar a luz e assistir