Não

Quase podia ter sido

Esse talvez quem sabe um dia

Mas acabou foi sendo nunca

Jamais nem mortinho da silva

Se acaso alguma coisa mudar

Liga pra minha secretária

Que até isso acontecer

Eu já vou ter alguma 

………………………….. (O resto do poema é opcional) 

Até talvez uma agenda dourada

Cheia de organização

Mesmo odiando dourado

E sendo essa confusão 

Por falta d’água perdi meu gado     

       

Na cidade cinza, de repente, começa um surto de cidades litorâneas e ensolaradas: a dengue. Então, como era ano eleitoral, o prefeito da cidade resolveu fazer um pacto com um demônio desses que você encontra em bar de beira de estrada.

-Olha, é o seguinte, eu entrego minha alma limpinha e embrulhada se você der um jeito nesse negócio de dengue antes das eleições.

-Posso fazer do meu jeito? Sem reclamações? Não vai vir com nota fiscal pra troca depois, né? Odeio quando tentam me enganar com essa.  

– OK, tudo do seu jeito sem reclamações. Onde eu assino?

– Espera meu amigo, que eu ainda tenho muito trabalho pela frente e preciso de uma caninha antes. Salta uma pinguinha com mel, amigão. – disse o demônio, se direcionando a um homem de avental no bar.Um copo meio sujo de pinga veio e ele começou a beber.

-Cuidado com o fígado, bicho ruim.

– Esse é meu quarto rim, de uma das almas que eu coleciono. Era de um dono que tinha um camelô e quis uma emissora de TV, gente boa o cara.

– Tá bem, entendi, antes que você me meta medo e me faça desistir, me deixa assinar isso logo. Faz a tua mágica. 

O demônio pega uma pasta debaixo da cadeira e retira uma caneta bic e um papel cheio de letras miúdas, um contrato de verdade. Coloca uns óculos redondos e aponta com a caneta onde ele deveria assinar.

– Ué? Cadê o fogo, a assinatura com as unhas, a música sombria? Tu já foi mais glamoroso, rapaz.

– Ah, isso é coisa do meu irmão, que gosta de ficar se exibindo. Não tenho tempo pra essas coisas, só quero poder beber sempre sem nenhum problema de saúde e dormir todo dia em rede sem dor nas costas.

O prefeito, visivelmente decepcionado, pega a caneta das mãos do demônio e assina todos os locais marcados.

– E agora? – pergunta o prefeito.

– Agora tu vai pros teus afazeres de prefeito e espera. O sinal virá.

Algumas semanas depois, o prefeito estava fulo da vida.

“Demônio de araque me roubou a alma, me fez pagar uma pinga pra ele e nem resolveu meu problema.” Ele murmurava, quando, para se distrair, resolve olhar para a TV e ouve a notícia principal: O reservatório de Maracutaia, que abastece a cidade, está diminuindo drasticamente por falta de chuva. A previsão é que a cidade tenha racionamento dentro de alguns dias. Tentamos falar com o prefeito sobre o assunto, mas não obtivemos êxito.

Depois de desligar a TV, inconformado com o que ouvira, sentiu um cheiro de álcool com mel e entendeu tudo. Foi para o bar de beira de estrada e o demônio estava lá sentado tranquilamente bebendo no que parecia o mesmo copo sujo.

O prefeito chegou dando tapa na mesa, quase derrubando o copo do demônio.

-Mas tu quer me fuder, o que foi aquilo?

– Eu te disse que ia fazer do meu jeito. A dengue não se propaga pela água acumulada nos lugares? Pronto não tem mais água, usei a lógica.

-MAS O QUÊ?- gritou ele possesso- assim não vou me reeleger, qual é a sua?

– Se fosse pra reeleger era só pedir pra ser reeleito, bobeou dançou colega. O mundo é dos espertos. Agora me vou, que tenho uma reuniãozinha na cidade maravilha com outros da tua laia. Ah, e sinto informar, já levei a alma da outra candidata pela eleição dela. Mas fica firme, que daqui a uns anos a gente pode negociar a alma de outras pessoas. Até a próxima.

 

oops

Este poema diz doa-se quando quer dizer foda-se

Ele segue o que a sociedade espera dele

Palavras sujas não são para poemas

A menos que a métrica já tenha ido à merda

E aí é cada um por si e ninguém mais pergunta como vai

Não poupa nenhuma pomba que esteja lá voando e cagando para todos